Os Laticínios Gióia, pioneiros na conquista do selo da certificação em Bem-Estar Animal, seguem sendo exemplo de produção leiteira eficiente e sustentável.
A história da família Roncoletta na pecuária leiteira começou em 2010, quando o senhor Marcos Roncoletta, contador e, até então, produtor de gado de corte, comprou os Laticínios Gióia na cidade de Atibaia/ SP. No início, pouco volume de leite captado de produtores da região era processado, mas, após algum tempo, a família adquiriu animais e ingressou na pecuária leiteira. Hoje, processam, em média, 3.500 litros de leite por dia.
A preocupação com o bem-estar dos animais emergiu de Viviana Roncoletta, filha de Marcos e Médica Veterinária responsável pela Fazenda Serra Dourada.
Ela conta que o interesse no assunto surgiu durante sua graduação, quando passou a entender o sistema de produção de leite e os benefícios associados à adoção de protocolos e normas que asseguram boas práticas na criação dos animais e no ambiente de relacionamento dos produtores e colaboradores.
Viviana recorda que a conversa para convencer o pai a iniciar o processo de certificação em bem-estar animal na fazenda foi simples. “Ele é um cara dos números, então eu precisava abordar a produtividade dos animais”. Ao passar por qualquer situação de estresse, o animal gasta suas reservas de glicose para tentar debelar o problema. Por exemplo, em estresse térmico, o animal mobiliza energia para resfriar do corpo. Da mesma forma, quando está com medo, ativa mecanismos que correspondem à “reação de luta e fuga”, para enfrentar o que interpreta como perigo. A glicose gasta para solucionar as situações de estresse é a mesma que deveria ser destinada à produção de leite. Ao final, isso significa prejuízo produtivo e financeiro.
Assim, respaldada por informações e dados, Viviana mostrou ao pai que cuidado e respeito aos animais são convertidos em retornos econômicos para a fazenda.
Desafios
Ao receberem o protocolo do Programa de Bem-Estar Animal da Integral Certificações, os produtores perceberam que teriam que providenciar ajustes no sistema, mas o impacto seria extremamente positivo no manejo dos animais. As mudanças incluíram o condicionamento na sala de ordenha das novilhas em pré-parto, para se familiarizarem com o ambiente que será parte da sua rotina. A Veterinária, que se tornou mãe recentemente, relatou que agora que teve a experiência do desafiador período pós-parto, entende verdadeiramente a necessidade de adaptação dos animais. “Senti na pele as dificuldades do puerpério, por isso tento minimizar ao máximo as fontes de estresse na maternidade das vacas”.
A parte mais difícil do processo foi conscientizar os colaboradores da fazenda sobre a necessidade de mudar certos manejos – desafio comum entre os produtores que ingressam na jornada rumo ao bem-estar animal.
Com muito diálogo e treinamento, Viviana e Marcos provaram que “o trabalho extra para a adaptação dos animais resulta, em curto prazo, em trabalho a menos”.
Isso porque o manejo racional torna os animais mais dóceis e obedientes aos comandos na rotina.
Por exemplo, a condução tranquila e sem estresse até a sala de ordenha faz com que o animal interprete aquele ambiente como agradável e seguro e, com o tempo, ele passa a se direcionar até lá de forma voluntária – o que facilita muito o trabalho do colaborador. O manejo gentil e racional durante a obtenção do leite também condiciona o comportamento não reativo das vacas, o que, igualmente, favorece o trabalho do ordenhador. Como resultado da eficiência operacional, tem-se a redução dos custos da atividade.
Berço do bem-estar
As instalações no modelo argentino permitem que os animais colham benefícios das formas de interação, o que já foi relatado em pesquisas científicas. Mesmo com o contato físico com os pares alojados ao lado, a sanidade dos bezerros não foi afetada. Isso porque os animais são observados diariamente e individualmente pelo colaborador responsável pelo setor. Ao menor sinal de doença, o bezerro é separado e avaliado, para evitar contaminação dos demais indivíduos da categoria. Após o desaleitamento, os animais seguem para um piquete coletivo, onde há enriquecimento ambiental com brinquedos que contribuem para o seu desenvolvimento.
COMO RESULTADO DA EFICIÊNCIA OPERACIONAL, TEM-SE A REDUÇÃO DOS CUSTOS DA ATIVIDADE
Resultados
Ao implantar as práticas associadas ao bem-estar animal, a família Roncoletta viu reduzir a mortalidade dos animais, principalmente das vacas parturientes e suas crias.
A construção da baia maternidade – exigida pelo Programa – controlou as distocias e impactou de forma positiva o desempenho e a saúde da vaca e do neonato.
Em paralelo, os índices reprodutivos e produtivos dos animais foram incrementados, também em consequência do maior conforto e das práticas para a redução do estresse aplicados nos demais setores. Os dados serviram para atestar que quando concedemos condições de bem-estar aos animais, eles retribuem em forma de produtividade.
Os Laticínios Gióia contam, ainda, com Tatiana Roncoletta, filha de Marcos e irmã de Viviana, na administração do negócio.
A família viu na certificação do Laticínio a oportunidade de exibir ao consumidor o bem-estar animal que já era realidade na Fazenda Serra Dourada. Com o selo, eles passaram a comunicar a confiança e a rastreabilidade agregadas aos produtos Gióia.
Certos do retorno financeiro acarretado pela certificação dos produtos, os produtores atenderam a demanda dos consumidores que buscavam lácteos com o selo da “vaca feliz”, como ficou conhecido na região. A experiência prática – e extremamente positiva – no mercado corrobora os resultados da pesquisa desenvolvida no Brasil e publicada no Journal of Dairy Research, na qual 95% dos entrevistados mostraram interesse em adquirir produtos certificados e 86% relataram disposição em pagar entre 3 e 10% a mais por esses produtos.
Os objetivos dos gestores da Fazenda Serra Dourada e dos Laticínios Gióia seguem ombreados na preocupação com o consumidor e na sustentabilidade do sistema de produção. A Integral Certificações segue entusiasmada e orgulhosa dos pioneiros em reconhecer o valor de comunicar ao consumidor que nossa cadeia produz leite repleto de bem-estar animal.
Por RAYSSA REIS ALOMA EITERER LEÃO